Dia do Nordestino no olhar do Chef Marcos Lôbo,
Explorando a Riqueza da Gastronomia Brasileira do Bioma
da Caatinga Pelos Olhos do Chef Marcos Lôbo em 08/10/2023 às 17h59
Hoje, não posso deixar de compartilhar a profunda conexão
que sinto com esta data e com o Nordeste, algo que está profundamente enraizado
em meu sangue. Ao explorar de perto o sertão nordestino, compreendi a
importância das PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) e como poderia
utilizá-las para auxiliar as várias famílias que atravessaram e ainda
atravessam essa terra ao longo do tempo. Há cem anos, já se falava sobre a
necessidade de proteger o Bioma da Caatinga. Quando visitei o Cariri após 50
anos, compreendi minha vocação inspirada por Padre Cícero. O espírito de
SERTAGRESTE vive em meu coração, na gastronomia e em minha culinária.
Nossa data não está marcada em um calendário, mas sim na
luta incansável para sobreviver nesta terra que o sol inclemente castiga devido
aos erros humanos na exploração. Foi nessa terra que aprendi a preparar uma
variedade de pratos e a conhecer várias plantas da flora, que poderiam ajudar
na sobrevivência do homem no campo.
O mandacaru, símbolo de nosso sertão, é utilizado não
apenas como remédio, mas também para purificar a água dos barreiros e na gastronomia,
combinado em pratos de peixe ou até mesmo cristalizado em doces.
A palma, antes destinada apenas ao gado, viajou do México
até o Nordeste para auxiliar o sertanejo. Em momentos de escassez de
ingredientes, ela foi transformada em alimentos para os nordestinos, seja em
guisados de frango, na massa do pão, em saladas ou até mesmo em fritadas.
A coroa de frade era transformada em doces e geleias,
especialmente quando as crianças desejavam algo doce e diferente.
Os xique-xiques e doces tornaram-se uma presença
constante nos lares, conquistando o paladar do povo nordestino, que descobriu
maneiras de transformá-los em diversas versões, desde coco até outros sabores.
Essas plantas, conhecidas como PANCs, ajudaram os
nordestinos a sobreviverem ao longo dos anos, sendo utilizadas com sabedoria
para tornar a vida no Nordeste mais suportável. O SERTAGRESTE é o resultado de
anos de dedicação, demonstrando a nossa força quando temos conhecimento da
flora do sertão. Levar esse conhecimento, contar as histórias de nossa
gastronomia e representar cada pessoa do Nordeste é ser nordestino no corpo e
na alma.
Aprendi com meu avô, um sertanejo, a produzir cajuína,
doce de caju, a entender a flora e a utilizá-la na gastronomia. Foi com ele que
aprendi a ser um nordestino de ontem, de hoje e para sempre. Quando preparo um
prato exclusivo do Nordeste, não esqueço que sou brasileiro, mas meu coração
pertence ao meu sertão. O sertão das tradições de preparar carne de porco, boi
e até mesmo de bode, apreciando as vísceras nos sarapatéis da vida, o miúdo de
boi preparado com jerimum e quiabo, a carne seca e a carne de sol. Do queijo
coalho à nata e muito mais.
Ser nordestino é vencer o sol, a terra e o ar. Ao
preparar um prato nordestino para desfrutar, sinta orgulho em saber que alguém
plantou ou criou aquilo para que você pudesse saborear.
CONTATO
Pesquisador e Gastrônomo/Chef Marcos
Lôbo
Fone / WhatsApps (81) 99788 6975
Uma matéria pra lá de especial...
ResponderExcluirObrigado é assim que sou um Nordestino.
Excluir